Sábado (outro)

                                  "Um Homem Falido"

Este sábado, 9 de Abril, eu não posso, mas o que queria era meter-me no carro e ir até Torres Novas, à inauguração de uma nova exposição de  Sofia Areal. Gosto da Sofia, deslumbra-me a sua agitada luz, a sua intensa, apaixonada vibração. Mas eu gostava era de ir a Torres Novas, àquela galeria Neupergama, em lembrança do seu fundador, José Carlos Cardoso, que morreu há uns meses e eu só descobri tarde demais. Era extraordinário, ali, em Torres Novas, ir às inaugurações, ficar a conversar na rua, às vezes ler poesias (Cesariny, sempre), conversar (foi lá a última vez que estive com o João Vieira, e rimos ), com o Rui Mário, o Nikias, a Sofia. Filmei lá, José Carlos Cardoso, com extrema generosidade, mostrava-me os extraordinários Lapa, Sena, Skapinakis, João Vieira que tinha. E levava-me ao café, ao restaurante, refilando contra os tempos que correm, o analfabetismo crescente, o péssimo jornalismo, falando do seu amigo Bual, de Cesariny, das mãos perfeitas de Álvaro Lapa (“era um extraordinário bricoleur, já viu estas madeirinhas?...), das suas desavenças, inquietações, gostos. Durante 30 anos quase, manteve uma galeria numa cidade pequena – e o respeito dos artistas. E a amizade de alguns. Eu gostava dele, do seu mau feitio, da sua roupa extravagante (calças vermelhas, cachecol verde, nem sei onde comprava aquelas coisas tintas por um Matisse dos anos do papel de lustro), às vezes falávamos ao telefone. Gostava de ir, com a Sofia, ver a sua exposição, conviver. Mas é a derradeira apresentação de Um Homem Falido no Instituto Francês, belo espectáculo, belo texto, belos actores – e eu vou mas é ficar nos bastidores, ouvindo-os, recolhido. E, no fim, aplaudindo-os, que bons que são os Sábados.


Jorge Silva Melo

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